Capitulo 2 - O medo.

Naquela tarde a vida já não fazia sentido pra mim.

Algo em mim queria lutar contra todo aquele desespero, mas o medo parecia predominar minha alma.

Eu queria correr, mas meus pés pareciam fixados ao solo.

Eu queria cair, mas meu corpo parecia já submerso em profunda dor.

Eu queria agir, mas meu medo de errar me impedia de raciocinar.

Começei então a ter sensações estranhas como se a todos os cantos alguém me espionava, pronto para me sequestrar ou atirar em mim.

As árvores pareciam ficar mais altas e o chão mais extenso, a noite estava chegando e eu já não tinha para onde ir.

E quando a noite cai, o medo é mais forte, tudo fica apavoradamente arrepiante, os sons externos eram de dar calafrios, grilos, corujas, qualquer minimo som me assustava.

Perdendo a noção de mim comecei a correr desnorteada, feito uma barata tonta, quando de repente cheguei meu corpo pediu água e minhas pernas já não tinham forças nem para ficar de pé.

Joguei-me no chão, e la eu fiquei, caida, sem saber pra onde ir ou o que fazer em seguida.

A noite passou, o dia começou a reluzir seus primeiros raios, e um belo dia começaria, ou pelo menos eu poderia sonhar que fosse.

A luz dom dia bateu-me a face e eu despertei de um sono profundo.

Olhei ao redor achando ter sido só mais um pesadelo, mas era tudo real... Minha mãe não era minha mãe, minha verdadeira mãe fora assassinada com veneno pelo meu pai, e agora eu estava prestes a morrer a qualquer momento. 

Respirei profundamente - Mais um dia de fuga ... - falei para eu mesma.

De repente notei que haviam algumas pessoas mais a frente. Pareica uma reunião.

Quem sabe se eu me aproxima-se talvez pudesse arrumar algum jeito de viver mais alguns dias, quem sabe conheço uma amiga que me da um teto pra morar, ou acabo encontrando um advogado e peço ajuda.

Não foi bem o que aconteceu rs.

Aproximei-me e antes que pudesse dizer um oi, uma das garotas que ali estavam me deu uma examinada de cima a baixo e falou como se quisesse que eu ouvisse

- Meu Deus o circo se foi e esqueceram uma das aberrações por aqui?

Quando pensei em me defender, surgiu um homem onde estavamos e mandou que todos ficassem em fila.

Todo mundo imediatamente obedeceu e eu fiquei observando eles se organizando.

De repente deparei-me com aquele homem assustador olhando direto pra mim um palmo da minha cara.

-PORQUE NÃO ESTA NA FILA MELIANTE?! - gritou o homem quase me deixando surda.

-Ah ... Bem, eu ... é - eu não sabia o que dizer, eu não fazia idéia para que era aquela fila muito menos o que iriam fazer lá dentro, mas não conseguia dizer não àquele homem assustador.

-PARE DE GAGUEJAR E ENTRE AGORA NA FORMAÇÃO ANTES QUE ME ZANGUE! - gritou aquela figura intrépida.

Senti o medo lá no íntimo e sem pensar praticamente joguei-me na fila.

-Senhores... ANDANDO! - disse o temerário.

Todos puseram-se a marchar para dentro da cerca, uma sensação de medo me cercava mas tentei pensar em qualquer coisa que me desse forças para encarar essa situação, afinal das contas, eu já não tinha mais casa muito menos família, o que perderia ou ganharia por entrar no desconhecido local?

O homem guiou-nos até dentro do que parecia ser uma república ou coisa do tipo, subimos uma escadaria alta, e depois ele ordenou que ficassemos em filas separadas por sexo.

-Aqui! - apontou o homem com os olhos para o quarto a direita - É o aposento feminino. E ali o masculino. O ser que se aproximar do quarto oposto será severamente punido! O mesmo para vocês meninas! Agora todos para seus aposentos, escolham suas camas e se aprontem para o treinamento de hoje!!!

Antes que pudessemos dizer algo ou fazer algo ele terminou - E dirijam-se a mim como Tenente Fuller! Dispensados!

*Agora eu acho que me meti numa fria - pensei.

Aquele tal Tenente Fuller me causava arrepios e um certo respeito pela sua figura ilustre. 

Mas me era estranho, desconfiado, tinha um sorrisinho de canto de boca muito suspeito, ou era eu que estava encucada com medo de que qualquer um fosse tentar me matar.

O jovem ultimo da fila dos meninos foi entrando para o quarto e dizendo - YEAH! Agora aqueles canalhas vão ver!!!!

*Ou isso é o exército ou o manicômio - pensei enquanto seguia para "meu quarto".

-Eu vou ficar com a primeira cama, e quero espaço de uma cama vazia entre eu e vocês! - falou Evelin, a garota que antes havia repreendido minha aparência lá na entrada. 

-Não esquenta eu fico com a ultima... Bem longe de você - falei tentando ignora-la.

-E eu com essa aqui, ela e eu, estamos ligadas!!! - Disse Camila, uma morena com cara de simpática - Ela olhou pra mim, eu olhei pra ela, e nós nos apaixonamos!!!

-Ainda bem que se apaixonou por uma cama e não por um guri, assim você não é expulsa no primeiro dia! - retrucou Evelin secamente.

-Ha-Ha, engraçadinha até o ultimo né... -  respondeu Camila sem nem se importar.

Enquanto isso no quarto dos garotos...

-Ai cara!!! Eu não acredito que estamos prestes a se tornar soldados cara!!!

-Se diz "Nos tornarmos" seu idiota... e nós tecnicamente já somos soldados apenas por estarmos aqui.

-A liga mané não me corrige não ta ligado?! Qual é, deixa eu ser feliz!!!

-Esqueceu que aqui é também uma escola? Prefere ser corrigido por mim agora ou pelo Tenente Fuller depois? Mané!

-Ixi! Já vi que vão pegar no meu pé né. Ai, mudando de assunto cara, vocês viram aquelas gatinhas? Se eu soubesse teria vindo pra cá mais cedo!!!

-Ai ô manézão se liga brother!!! Aqui a gente não tem tempo pra pegar as mina não falou? O negócio é pegar firme no tranco pra ser fuzileiro!!!

-Ta legal, ta ok cara qual é? Só tava falando .. eu hein!

-Então melhor ficar de boca fechada ... se o tenente escuta é você na rua.

-Eu sei que ta tudo muito bom mas que tal as bonitas escolherem logo suas camas e se vestirem pra quando vierem nos chamar estarmos prontos?

-E tu ta olhando o que? Vai procurar o que fazer cara!

-Ok ok... Não ta mais aqui quem falou... Epa, acho que ouvi passos!

-Ei homens, inspeção de quarto!

-A não! É o tenente!!! Xiiiiii!!!! Ferrou!